terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Distribuição geográfica Humana na ilha da Madeira


No século XV, mais precisamente em 1419, a ilha foi descoberta pelos Portugueses, João Gonçalves Zargo e Tristão Vaz Teixeira e, a partir de então, a ilha passou a ser conhecida por Madeira, devido à abundância desta matéria-prima. No entanto, na antiguidade, os Romanos já conheciam a ilha da Madeira como sendo a Ilha Púrpura.
Cerca de 6 anos após a descoberta, a colonização humana iniciou-se a mando do Infante D. Henrique dado que, encontravam-se em jogo interesses territoriais e económicos. Nessa altura a costa Sul, muito mais abrigada e solarenga, viria a revelar-se, num curto espaço de tempo, muito mais produtiva que a Norte; servida por uma ampla baía central, igualmente muito abrigada, cortada por 3 ribeiras e onde havia muito funcho, fez com que o primitivo lugar do Funchal prosperasse rapidamente impondo-se, de certa forma, como capital da ilha.
Actualmente, a população humana concentra-se principalmente nos concelhos do Funchal, Câmara de Lobos, Santa Cruz e Machico (Imagem 6) devido, em grande parte, a factores de ordem física e humana.
Os factores físicos são:
-relevo;
-exposição das vertentes;
-condições meteorológicas.
A ilha da Madeira, com 58 km de comprimento e 23 km de largura máxima, apresenta uma cordilheira montanhosa central, com orientação Este-Oeste, que individualiza duas vertentes: Norte e Sul. O relevo da ilha é muito acentuado, com vales profundos e arribas altas, resultantes sobretudo da intensa erosão causada pelas chuvas e pelo mar. No entanto, a encosta Sul apresenta um relevo mais suave do que a encosta Norte, mais íngreme.
A irregularidade do relevo condiciona significativamente o clima a nível local. O clima da Madeira resulta da influência conjunta de vários factores, uns de carácter geral, outros à escala local. Nos de carácter geral destacamos a latitude, a situação oceânica e o anticiclone dos Açores. Nos de carácter local destaque para a altitude, a exposição das vertentes à radiação solar e a influência dos ventos alísios (oriundos de Norte e Nordeste). Assim, a vertente Norte está mais exposta aos ventos, é mais húmida, apresenta maior pluviosidade e menor exposição solar que a vertente Sul, protegida pela cordilheira montanhosa central. Estes ventos (alísios) frescos e húmidos, originam uma zona de nevoeiros permanente a altitude variável, cujo limite inferior se observa a cerca de 500 m, durante o Inverno, e pouco mais acima durante o Verão. Esse mar de nuvens, de natureza orográfica, forma-se pela subida de massas de ar carregadas de humidade nas encostas viradas a Norte. Estas massas de ar ao encontrarem as vertentes íngremes são “obrigadas” a subir. Durante essa subida, o vapor de água condensa, culminando em precipitação (imagem 1). A precipitação nas zonas a Norte ronda os 1000 mm em contraste com a vertente Sul da ilha onde a precipitação ronda os 500 - 650 mm. A precipitação aumenta com a altitude, daí que nos picos mais altos e nos planaltos, os valores se encontrem acima dos 3200 mm (imagem 2).
A média anual de humidade relativa varia entre os 55 %, junto à costa, até aproximadamente os 90 % na zona de condensação dos nevoeiros.
Quanto à temperatura, não ocorrem grandes variações térmicas durante todo o ano mantendo-se com temperaturas médias entre os 16 e os 23 ºC, sendo Agosto o mês mais quente e Fevereiro o mais frio. Existem no entanto variações térmicas mais acentuadas nas grandes altitudes (imagem 3).
Tal como já foi referido, desde o início do povoamento que a população começou a concentrar-se no Funchal e progressivamente nos concelhos vizinhos.
A agricultura, sector primário, constituiu a actividade económica predominante na Madeira (imagem 4) até à actualidade, ocupando cerca de 75 % dos seus habitantes. A fertilidade dos solos, a temperatura, o número de horas de Sol e a humidade foram factores importantes no desenvolvimento desta actividade aquando da fixação humana. No que toca à prática agrícola, organizada em socalcos, distinguimos três andares (imagem 5):
- nas terras de baixa altitude, até aos 300 m, podemos encontrar culturas de maior rendimento como, como a banana, a anona, a manga, a papaia, a pêra-abacate, a cana-de-açúcar, o maracujá, a vinha, entre outras espécies tropicais;
- nas altitudes intermédias situam-se culturas como a batata, o feijão, o trigo, o milho e árvores de fruta da região mediterrânica (figueira e nespereira);
- nas altitudes mais elevadas encontram-se os pastos, os pinhais, os eucaliptais, os soutos e os restantes bosques (sejam de Laurissilva ou de floresta exótica).
Dentro deste mesmo sector, a pesca apresentava elevada importância, embora, hoje em dia, tenha perdido parte dessa relevância.
A ilha da Madeira sempre foi considerada uma região agrícola. No entanto, ao longo da sua história surgiram várias indústrias das que destacamos a indústria da obra de vimes, dos bordados, vinícola, da cana sacarina, dos lacticínios, do tabaco, das conservas de peixe, das velas de estearina e de cera, do sabão, da serração de madeiras, de massas alimentícias, de adubos químicos, de tintas, etc. Estas indústrias, instaladas essencialmente na costa Sul da Madeira, obrigaram à fixação de grande parte da população nesta região pois procuravam melhores condições de vida.
O turismo e o comércio, sector terciário, tiveram também uma grande influência na distribuição da população na Madeira. Tal como se verificou com a indústria, as populações fixaram-se no litoral, onde as infra-estruturas hoteleiras, turísticas e comerciais tiveram maior implantação.
Resumindo e concluindo, a população humana na ilha da Madeira tende a localizar-se preferencialmente na costa Sul, apesar de se verificar uma forte litoralização ao longo de toda a ilha (imagem 6 e 7). Recentemente, esta tendência inverteu-se devido à grande melhoria das estruturas viárias, a população começou a instalar-se nos concelhos limítrofes do Funchal principalmente em Câmara de Lobos e Santa Cruz.




Imagem 1: Formação das chuvas orográficas

Imagem 2: Precipitação na ilha da Madeira



Imagem 3: Temperaturas médias ao longo do ano na ilha da Madeira



Imagem 4: Principais culturas da ilha da Madeira




Imagem 5: Perfil da ilha da Madeira (Norte-Sul), diagramas termo-pluviométricos e zonas de vegetação



Imagem 6: Densidade populacional por concelho




Imagem 7: Distribuição esquemática das habitações



Imagem 8: Evolução da densidade populacional (1890 – 1950)




Fontes:

http://estatistica.gov-madeira.pt/

http://www.wikipedia.org/

http://www.madeiranature.com/

http://madeira-gentes-lugares.blogspot.com/

Carita, R. 2008. Funchal 500 Anos de História. Guias do Funchal – 3. Funchal 500 Anos, E. M. 171 pp.


Farrow, J. & S. Farrow. 1987. Madeira Pearl of the Atlantic. The complete guide. Great Britain. Robert Hale Limited. 189 pp.


Jardim, R. & Francisco, D. 2000. Flora Endémica da Madeira. Funchal. Múchia Publicações Lda. 339 pp.

Pereira, E. C. N. 1989. Ilhas de Zargo. 4ª ed. Funchal. Ed. Câmara Municipal do Funchal. Vol. I, 784 pp.

Silva, F. A. & Menezes, C. A. 1965. Elucidário Madeirense. 3ª Edição. Funchal. Ed. Junta Geral do Distrito Autónomo do Funchal. Vol. I, II, III, 413 pp, 448 pp, 413 pp.

Vieira, Alberto. História da Madeira. Secretaria Regional da Educação. Funchal. Setembro de 2001. 399 pp.


Antunes, João."Geografia 10º ano de escolaridade (Área A) 1º ano do curso complementar liceal nocturno, I volume". Plátano Editora

Girião, A. de Amorim. "Geografia de Portugal (acrescida do estudo das Ilhas adjacentes)". Portucalense Editora. Porto 1960

5 comentários:

  1. Ola muito boa noite.
    Depois de analisar o vosso texto muito rico em informaçao, surgiu me uma duvida, ao longo dos tempos podemos observar que o fenomeno conurbaçao se tem intensificado e que apesar da populaçao estar actualmente a seguir uma segunda via "meio rural" para fugir ao stress diario, podemos ver que muitas vezes é colocado em risco o factor ambiental se é que me posso expressar assim, acham que seria possivel optar por via mais segura tanto para os habitantes como para o ambiente? visto que o relevo nao esta a ser um "entrave" para parar a populaçao de se expandir pela periferia da cidade do funchal.

    Continuem com o blog, esta muito rico em informaçao como ja tinha dito e a informaçao é muito "pratica".

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  2. Para "O meu nome não é Maria"

    Obrigado pelo comentário. Quanto à tua pergunta, Nós achamos que sim. No entanto, isso envolveria algumas alterações.
    Na nossa opinião, uma boa maneira de continuar a haver uma dispersão da população para a periferia, preservando o ambiente, seria ocorrer uma descentralização do poder. Assim, se as pessoas pudessem trabalhar e tratar da sua vida na cidade em que residiriam, a poluição provocada pelas deslocações para o grande centro urbano seriam diminuidas significativamente.
    Contudo, o maior entrave continuaria a ser a consciência Humana. Actualmente, apesar ads campanhas de sensibilização, nós ainda não estamos preparados para abdicar do comodismo em prol de um ambiente são.

    O Grupo :)

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  3. Boas pessoal, a ideia de criar este blog foi muito bem pensada, porque hoje em dia diz-se que a internet é um mundo, onde é facil encontrar todo o tipo de informação, as vezes não é bem assim, eu interesso-me por historia e cultura da Madeira, e outros assuntos do genero, que tenham a ver directa ou indirectamente com a Madeira, e quando vou pesquisar esses assuntos na internet é como procurar uma agulha num palheiro.
    Quanto ao vosso blog , é interessante ver como a orografia da Madeira joga como imensos factores desde a distribuição da poulação até ao desenvolvimento das actividades económicas, acho que o aparecimento das vias de ligação, que têm surgido nos ultimos anos , tais como vias rapidas e tunéis, na Madeira surgem também como forma de resolver a disigual distribuição orografica

    Parabéns e continuem

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  4. Boa noite a todos os leitores deste blog.
    Venho desde já apresentar os meus parabens a quem criou este blog, pois graças a ele aprendi e re-aprendi varias coisas sobre a nossa bela ilha.
    Ainda bem que ainda existem pessoas, que neste caso sao jovens, que se preocupem em transmitir a historia e a orografia da Madeira, neste mundo de informaçao que é a internet, tal como disse outro comentador deste blog, o Darcio.
    E assim me despeço, caros leitores, enquanto espero por outras publicaçoes por parte de MadIlusion.
    Beijos para elas, abraços para eles (só para nao haver confusoes) e até um dia destes.

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